Na história, Jean Cabot é a mimada esposa de um rico promotor e vive na cidade do sul da Califórnia. Sua rotina é alterada quando seu carro de luxo é roubado por dois assaltantes negros. O crime culmina num acidente que acaba por aproximar habitantes de diversas origens étnicas e classes sociais de Los Angeles: um veterano policial racista, um detetive negro e seu irmão traficante de drogas, um bem-sucedido diretor de cinema e sua esposa, além de um imigrante persa e sua filha.
Mas não pense que a narrativa pertence a algum protagonista em especial. Todos estão lá como peões num intricado tabuleiro de emoções que afloram conforme eles se encontram, ou melhor, se esbarram no acaso da vida do dia-a-dia. Nesses encontros, os personagens tomam consciência de quem realmente são e a maneira como conduzem suas vidas, muitas vezes patéticas. O sentimento que serve de fio condutor é o racismo presente nos EUA, um tema que tende a ser empurrado para debaixo do tapete.
O racismo está presente em todos os grupos étnicos que vivem nos EUA, mas é Los Angeles a cidade escolhida como cenário. Esse palco, entretanto, não tem nada de preto e branco, como no tão explorado caso do afro-americano Rodney King. O argumento de Haggis é colorido como um arco-íris de etnias. Latinos, muçulmanos, brancos, negros, todos fazem parte e contribuem para o problema.
As coincidências do roteiro podem ser acusadas de improváveis e as narrativas paralelas podem ser sistemáticas em excesso - a tal ponto que fazem lembrarMagnólia, do diretor Paul Thomas Anderson. Mas isso não tira a força da direção e nem das surpresas na história, co-escrita por Haggis e Bobby Moresco. A trama envolvendo o latino e o persa é a mais envolvente e brilhante. Sua conclusão é de causar frio no estômago e até aqueles que se dizem contra o racismo se descobrem inconscientemente enraizados no problema.
O elenco está soberbo. Paul Haggis tira leite de pedra, visto que até mesmo Brendan Fraser e Sandra Bullockconvencem em seus papéis. Todos estão lá a serviço da contundente história, representando não só os diversos grupos, mas também as diferentes classes sociais. Suas frustrações são exorcizadas em pura agressividade, como uma forma de canalizar a depressão e o sofrimento de sentir-se excluído. E isso acaba transformando toda pessoa estranha em um potente inimigo.
O filme Crash faz refletir sobre preconceitos
descasos, entre outros problemas que vivemos .O preconceito que pode estar entre as mais diversas situações do nosso cotidiano que as vezes passa despercebido